Por Lucas Andrade | Edição: Marcelo Soares | Arte: Nicoly Modesto | Foto: Maria Ferreira dos Santos
Em 2025, é impossível tratar a pauta ambiental como um assunto de nicho. Os jornalistas que cobrem o tema garantem: o meio ambiente está presente quando se fala de economia, política, eleições e até mesmo futebol. As grandes redações ainda tratam o tema de forma desconexa e reativa, mas uma nova safra de sites jornalísticos já tem surgido com o clima na cabeça
Essa foi a tônica da aula “Formando uma nova geração de jornalistas para a cobertura da emergência climática”, que aconteceu neste sábado (12), durante o 20º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo, organizado pela ABRAJI. Participaram da mesa os jornalistas Leão Serva, diretor internacional da TV Cultura em Londres, Verónica Goyzueta, co-fundadora do Portal Sumaúma, e Bárbara Libório, co-diretora do Instituto AzMina e mediadora da mesa. Os três também atuam como professores da ESPM.
Segundo Goyzueta, nos últimos 50 anos os cientistas perceberam que a situação climática é grave. Neste mesmo período, o jornalismo procurou especializar a cobertura de aspectos da sociedade em editorias de economia, política, cultura e outras. Pautas ambientais, ainda que com muita conexão com outros assuntos, passaram décadas sendo encaradas como “coisa de nicho”.

“Fragmentar os assuntos do dia-a-dia e editorias faz com que percamos a capacidade de ver o todo, condenando o meio ambiente a uma pauta secundária”, disse Leão Serva. No final dos anos 1980, quando começou sua carreira, jornalistas interessados em cobrir pautas ambientais, como era seu caso, eram classificados como românticos incorrigíveis ou meros chatos. Hoje, afirma, é necessário outro tipo de especialização, que “seja capaz de dar respostas sobre essa agenda científica”, enxergando nexos entre o ambiente e outros temas.
Além de se manter a par dos nexos científicos, diz Goyzueta, os novos repórteres climáticos precisam trabalhar a criatividade e ouvir melhor as pessoas impactadas pela emergência ambiental. “[Precisamos de] Um jornalista que não é só investigativo e que dá os dados, mas um profissional que se importa com as pessoas”, diz.
Para Serva, o novo profissional precisa ser multimídia e plural, pensando em como produzir reportagens para diversos formatos. Isso exige um conhecimento robusto sobre o tema ambiental. “Se um repórter for levado hoje ao Texas para entender as enchentes da região, precisará entender que o evento climático faz parte do aquecimento global como um todo, mas também possui peculiaridades locais”, exemplifica.
Verónica afirma que a pauta ambiental não comove muita gente porque elas não percebem esse como um dos problemas mais imediatamente graves que enfrentam. Enquanto lutam para sobreviver, porém, precisam se amontoar sob a magra sombra de um poste enquanto esperam o ônibus para irem trabalhar. “É um assunto que talvez não pareça prioridade para as pessoas, mas elas estão sofrendo com o calor”.

Segundo ela, o jornalismo independente tem feito uma cobertura ambiental mais aprofundada do que a dos meios de comunicação tradicional. Aos poucos, porém, os grandes jornais vêm copiando modelos criados pelos independentes e qualificando sua cobertura ambiental.
Entre as inovações trazidas pelos novos meios de comunicação estão o uso de gráficos e dados e até entrevistas em formato de histórias em quadrinhos. “O jornalismo está se transformando em algo que não imaginávamos”, diz.
Texto produzido por estudantes, recém-formados e jornalistas integrantes da Redação Laboratorial do Repórter do Futuro, sob coordenação da OBORÉ e da Abraji.