Uma imagem que revela o contraste dos dois lados de Belém.

Oliver Freire | Raio X Amazônia
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Parintins (AM) – Nos últimos dias, as redes sociais têm repercutido com dois temas que se cruzam: Belém do Pará e a COP 30. E não se trata apenas de exaltar a fascinante biodiversidade da região, o porto movimentado ou a riqueza cultural que fazem da cidade uma vitrine amazônica. O que chama atenção é a tensão entre o prestígio global de sediar o maior evento climático do planeta e a dura realidade local marcada por desigualdades históricas.

Em Belém há dois cenários. O primeiro, o das salas climatizadas, onde líderes mundiais debaterão metas e acordos para conter o aquecimento global. O segundo, o das ruas, onde a população continuará enfrentando os mesmos desafios de mobilidade, segurança, moradia e acesso a serviços básicos.

Não é que Belém não tenha condições de receber um evento como a COP. O problema está em algo mais profundo: décadas de abandono estrutural que se traduzem em infraestrutura precária, políticas públicas insuficientes e desigualdades sociais gritantes que, inevitavelmente, saltam aos olhos do mundo.

A escalada de preços, especialmente no setor de hospedagem, e a inoperância de programas como o das bicicletas elétricas, que vêm sendo furtadas e vendidas como sucata, expõem dois pontos centrais. Primeiro, o Norte do Brasil ainda enfrenta uma pobreza estrutural que impede a solução de problemas básicos, principalmente a fome. Segundo, essa realidade dificilmente pode ser disfarçada pelo marketing que vende uma Amazônia “tranquila” e “harmoniosa” aos olhos internacionais.

Para agravar, o debate sobre essas falhas tem alimentado episódios de xenofobia, como se o atraso socioeconômico fosse fruto de uma suposta “inferioridade” da região, e não de um histórico de negligência política nacional. Essa visão preconceituosa reforça o isolamento do Norte em relação ao chamado “desenvolvimento” do país.

O Pará não consegue mascarar sua realidade. Ao mesmo tempo em que Belém se prepara para ser palco da 30ª edição da Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, em novembro de 2025, a cidade exibe, sem filtros, os contrastes entre o discurso oficial e a vida cotidiana.

Belém está no centro dos holofotes. Mas talvez a grande lição da COP 30 seja esta: antes de pensar na “cidade global” que quer se exibir, é preciso enfrentar, de fato, a cidade real que vive.

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